Sublime
O termo sublime, do latim sublimis, entra em uso no século XVIII indicando uma nova categoria estética, distinta do belo e do pitoresco, e remete a uma gama de reações estéticas com a sensibilidade voltada para os aspectos extraordinários e grandiosos da natureza. Para o sublime, a natureza é ambiente hostil e misterioso que desenvolve no indivíduo um sentido de solidão. Empregado primeiro na retórica e na poesia, o conceito obtém aceitação mais ampla com a tradução francesa do Tratado sobre o Sublime, atribuído a Longino (século III d.C.), feita pelo escritor Nicolas Boileau, editada em 1674. Longino descreve as coisas do mundo natural em termos de imensidão e violência. Em pleno classicismo, a estética do sublime, apoiada na idéia do temor reverencial à natureza, interpela os valores reinantes ligados à ordem, ao equilíbrio e à objetividade. O sublime se dirige ao ilimitado, ao que ultrapassa o homem e todas as medidas ditadas pelos sentidos. A noção conhece desenvolvimento precoce na Inglaterra pelos escritos de William Shakespeare, Edmund Spenser e sobretudo de John Milton. No longo poema bíblico O Paraíso Perdido, 1667, Milton constrói uma tragédia de dimensões cósmicas cujo personagem central é Satã, anunciando o tópico do satanismo, fortemente explorado pelos românticos. Ainda na literatura, o Canto de Ossiam (lendário bardo e guerreiro gaélico cujos versos conhecem notoriedade na década de 1760 e que na verdade foram escritos por seu "tradutor", Macpherson), o romance gótico - gênero pioneiramente exercitado por Horace Walpole em O Castelo de Otranto, 1764 - e o movimento literário alemão do sturm und drang [tempestade e ímpeto], 1770/1790, alimentam a estética do sublime.
O termo sublime, do latim sublimis, entra em uso no século XVIII indicando uma nova categoria estética, distinta do belo e do pitoresco, e remete a uma gama de reações estéticas com a sensibilidade voltada para os aspectos extraordinários e grandiosos da natureza. Para o sublime, a natureza é ambiente hostil e misterioso que desenvolve no indivíduo um sentido de solidão. Empregado primeiro na retórica e na poesia, o conceito obtém aceitação mais ampla com a tradução francesa do Tratado sobre o Sublime, atribuído a Longino (século III d.C.), feita pelo escritor Nicolas Boileau, editada em 1674. Longino descreve as coisas do mundo natural em termos de imensidão e violência. Em pleno classicismo, a estética do sublime, apoiada na idéia do temor reverencial à natureza, interpela os valores reinantes ligados à ordem, ao equilíbrio e à objetividade. O sublime se dirige ao ilimitado, ao que ultrapassa o homem e todas as medidas ditadas pelos sentidos. A noção conhece desenvolvimento precoce na Inglaterra pelos escritos de William Shakespeare, Edmund Spenser e sobretudo de John Milton. No longo poema bíblico O Paraíso Perdido, 1667, Milton constrói uma tragédia de dimensões cósmicas cujo personagem central é Satã, anunciando o tópico do satanismo, fortemente explorado pelos românticos. Ainda na literatura, o Canto de Ossiam (lendário bardo e guerreiro gaélico cujos versos conhecem notoriedade na década de 1760 e que na verdade foram escritos por seu "tradutor", Macpherson), o romance gótico - gênero pioneiramente exercitado por Horace Walpole em O Castelo de Otranto, 1764 - e o movimento literário alemão do sturm und drang [tempestade e ímpeto], 1770/1790, alimentam a estética do sublime.
É na Inglaterra que vem à luz o mais importante tratado sobre o conceito, Uma Investigação Filosófica sobre a Origem de Nossas Ídéias do Sublime e do Belo, 1757, de Edmund Burke. Burke apresenta o sublime como uma modalidade da experiência estética mais ampla, encontrada não apenas na literatura. Segundo sua definição, a natureza do sublime relaciona-se ao infinito e, sobretudo, ao sentimento do terror. Para Burke, "tudo aquilo que serve para, de algum modo, excitar as idéias de dor e perigo... ou versa sobre objetos terríveis, ou opera de maneira análoga ao terror, é origem do sublime; ou seja, é causador da mais forte emoção que a mente é capaz de sentir". Uma das primeiras obras a enfatizar o poder de sugestão como elemento fundamental para a imaginação - "as imagens escuras, confusas e incertas, mais do que aquelas claras e determinadas, têm sobre a fantasia um poder maior de formar as grandes paixões" -, o tratado de Burke sinaliza um distanciamento em relação às idéias clássicas e racionalistas do início do século XVIII, anunciando preocupações que viriam a ser exploradas pelo romantismo. O impacto das idéias de Burke na Alemanha se faz sentir por intermédio do filósofo Immanuel Kant, principalmente em suas Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime,1764 e na Crítica do Juízo. 1790, em que define o "sublime como aquilo que é absolutamente grande". O pintor e teórico da arte inglês Joshua Reynolds discute o sublime em seu último Discurso, de 1790. Tanto as figuras de Deus como a imagem das sibilas pintadas por Michelangelo Buonarroti no forro da Capela Sistina, segundo ele, provocam a mesma sensação das "mais sublimes passagens de Homero".
Nas artes visuais, o culto do sublime conhece expressões muito variadas, embora seja possível localizar nele traços dominantes: o caráter visionário do sublime é representado, de modo geral, por cores empalidecidas e sem brilho, por traços marcados e gestos excessivos. O gosto pelas paisagens selvagens e inóspitas do pintor napolitano Salvator Rosa, de ampla aceitação na Inglaterra, exerce grande influência no desenvolvimento do sublime. Penhascos escarpados e árvores retorcidas criam uma ambiência de desolação que contrasta com a grandeza clássica do paisagismo de Nicolas Poussin. As pinturas visionárias e fantásticas do inglês William Blake - como, Newton, 1795 e O Purgatório,1824/1827 entre outras - as imagens alucinadas de Heinrich Füssli - por exemplo, O Pesadelo, 1781 - colocam em funcionamento a categoria estética do sublime, tipicamente pré-romântica em sua revalorização dos elementos irracionais e fantásticos da arte. Mas os dois artistas que melhor sintetizam o sublime na pintura são Joseph Mallord William Turner e Caspar David Friedrich. Nas telas de Turner, a natureza se mostra como potência desvastadora, como fogo ou como força marítima. Nos quadros de Friedrich, o aspecto sublime se revela principalmente por uma espacialidade majestosa, que apequena os homens. No entanto as soluções trágicas e expressivas de Michelangelo estão na raiz da poética do sublime. Segundo Blake, ele seria o modelo do artista sublime, um "gênio" inspirado por excelência, localizado nas antípodas da pureza de gosto de Rafael.
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